segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Escolhas



Há cerca de trinta anos, ouvi uma conversa inesquecível de dois velhinhos em uma fila de banco. Amigos de infância em uma cidadezinha, encontraram-se ali depois de muitos anos sem se ver. Haveriam de colocar em dia as notícias sobre os companheiros daquele tempo, das famílias de cada um deles. À medida que os nomes eram citados, as respostas foram curtas e definitivas: há muito nos deixou, não aguentou, também morreu. Por fim, constataram que estavam sozinhos, como os últimos de uma tribo extinta. Uma nuvem sombria de solidão os deixou arrasados.
Durante décadas, aquele momento ficou em minha memória como uma situação inevitável.
Recentemente, vi a história se repetir em minha própria família. Minha mãe, com 95 anos, recebeu a visita de um amigo de infância, de 90 anos de idade.
Quando se sentaram frente a frente, ele disse a ela que do lado dele, todos daquela época haviam morrido. “Só eu estou vivo!” “Oh! Eu também!” E deram gargalhadas!
Aos 59 anos, tenho aprendido muito com eles. Inclusive sobre as escolhas que se faz ao longo da vida e a escolha de como entender o que é inevitável, como a morte. Algumas pessoas decidem ser solidárias com os mortos procurando estar ao lado deles, morrendo também, apagando a lembrança de o que viveram.
De minha mãe e seu amigo tenho ouvido simples e maravilhosas histórias do que viveram seus avós, cerca de cem anos atrás. Graças a suas lembranças, pessoas que morreram bem antes de eu ter nascido estão vivas em meu pensamento. E posso lhes agradecer pelo que fizeram, inclusive por terem resguardado durante seu tempo o código genético ancestral que hoje utilizo para viver e passei para minhas filhas. Por minha vez, posso contar às novas gerações o que foi vivido, para que façam seus planos para o futuro. Quem sabe, no próximo século, contem como resolveram problemas ambientais e de respeito humano.
Há fascinantes histórias a ser vividas.

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